Uma doença, uma avaria inesperada no carro, ou a perda do emprego. Se estivesse numa destas situações, conseguiria enfrentar as suas despesas e obrigações? Evitamos pensar em cenários desagradáveis, mas a verdade é que os imprevistos acontecem. Pelo sim, pelo sim, o melhor é poder contar com um fundo de emergência.
O aumento do custo de vida e a subida da prestação da casa têm deixado pouco espaço para a poupança. A taxa de poupança dos portugueses é, aliás, uma das mais baixas da OCDE. Isto faz com que as famílias fiquem mais vulneráveis a imprevistos financeiros. Mas e se tudo correr mal? Só a poupança lhe permite estar protegido. A poupança e um fundo de emergência.
A base de todas as histórias de poupança deve ser um fundo de emergência. Tal como o nome indica, é uma poupança que tem como objetivo fazer face a situações que não estavam previstas no orçamento. Um acidente, uma quebra no rendimento, ou um eletrodoméstico que deixou de funcionar, por exemplo.
Ao criar um fundo de emergência, está a pensar na sua segurança financeira, mas também a diminuir a probabilidade de recorrer a um crédito pessoal ou crédito ao consumo.
O montante a juntar nesta poupança depende de cada família, mas deverá andar entre 6 meses a um ano de despesas indispensáveis (aquelas que tem mesmo de pagar, como a casa e as contas de energia e supermercado).
O primeiro passo para fazer um fundo de emergência é saber exatamente quanto ganha e onde gasta o seu dinheiro:
onde aponta todas as despesas essenciais.
da água, luz, gás, telecomunicações, prestação da casa ou encargos com outros empréstimos e seguros.
com alimentação, transportes (combustível ou passes), despesas com a educação dos filhos (mensalidades de escolas, refeições, etc.) e impostos
O seu fundo de emergência deverá ser o valor destas faturas multiplicado por 6 ou 12 meses, dependendo do nível de proteção que deseje ter.
Mas, atenção: Fora desta conta fica tudo o que não é essencial, como férias, jantares, idas ao cinema, ou compra de literatura/música. No entanto, no seu orçamento detalhe todos estes gastos e veja onde pode cortar. Algo tão simples como passar a tomar o pequeno-almoço em casa, não beber café na rua ou ter apenas um serviço de “streaming” podem facilmente libertar 30 a 50 euros para poupar.
EXEMPLO
Vamos a um exemplo, para fazer o seu fundo?
Família Santos | Despesas mensais
500 €
120 €
450 €
100 €
150 €
100 €
100 €
1.520 €
Entre 6 a 12 meses de despesas regulares
O dinheiro do fundo de emergência deve ser aplicado numa conta à parte. Para investir esta poupança deve escolher uma aplicação financeira sem risco, com garantia de capital e à qual possa aceder de forma imediata sem penalizações.
Mais importante do que rentabilizar este dinheiro, é garantir que tem acesso a ele numa situação inesperada.
Os produtos onde investe devem ter grande liquidez, mas é importante que tenham algum rendimento. Pode investir a poupança do fundo de emergência em produtos como:
● depósitos;
● certificados de aforro e de tesouro;
● fundos de liquidez/mercado monetário.
Quer uma solução de poupança à sua medida?
A melhor forma de garantir que se vai manter fiel aos seus objetivos é estabelecer um valor de poupança regular e programá-la. Desta forma, não corre o risco de se esquecer ou de cair na tentação de gastar este dinheiro noutras coisas. Pode, por exemplo, fazer um débito direto para uma determinada aplicação. Esse valor sai no início do mês quando entra o salário, de maneira que já não o “vê” na conta.
Esta prática vai ajudá-lo a criar hábitos de poupança e vai deixá-lo protegido face a situações de instabilidade. No entanto, poderá ter que ajustar o valor do seu fundo de emergência para acompanhar fatores como a subida dos preços (inflação), ou das taxas de juro. Caso a sua prestação da casa suba 200 ou 300 euros num ano, a sua almofada de liquidez tem que ser atualizada para incluir este agravamento. O mesmo em relação a outras despesas.
Agora que já sabe o que deve fazer para criar um fundo de emergência, é importante avaliar a sua resistência. Há diversas situações que podem colocar à prova o seu fundo e podem obrigar a modificações. Veja três cenários de stress para testar o seu fundo:
A subida das taxas de juro tem ditado um forte agravamento dos custos dos empréstimos da casa. Por isso, é importante que faça esta questão: “O meu fundo suportaria um aumento de 20% da prestação?".
Numa situação em que a prestação de 700 euros passasse para 840, e imaginando o caso em que uma família tem um fundo de emergência preparado para 12 meses (1000 euros/mês * 12 meses), o valor do fundo daria para cobrir os gastos de apenas 10,5 meses, devido à subida do custo da casa. Perante este cenário, há duas hipóteses: ou a família aumenta o fundo para 1680 euros para cobrir a subida da Euribor, ou abdica de quase dois meses de proteção.
O sucesso escolar dos filhos é sinónimo de orgulho e conquista. Mas e se alguma coisa correr mal na altura em que um filho entra na Universidade? Se perder o emprego, ainda será possível realizar este objetivo? Ter um filho no Ensino Superior é caro. Se já é difícil quando se tem trabalho, uma perda inesperada de emprego pode pôr o orçamento familiar à prova.
Se tem crianças próximas da idade de ingressar no Ensino Superior, a sua poupança deve ser atualizada para incluir estes custos. É muito diferente ter um adolescente no secundário a ter de pagar casa noutra cidade, propinas e todas as outras despesas.
Caso o seu fundo ainda não esteja preparado para este cenário, isto significa que não passaria neste teste de stress. Reveja os valores de poupança e atualize o montante do seu fundo de emergência. A ausência de fundos suficientes poderia significar não conseguir pagar os estudos.
Um fundo de emergência que cubra os gastos essenciais por um período de 6 a 12 meses é considerado suficiente para fazer face a situações de imprevistos financeiros, sobretudo em casos de desemprego. Mas nem sempre as coisas correm como prevemos.
E se, depois de esgotar o fundo, ainda não tiver encontrado um novo trabalho? Este é um cenário de stress extremo. À partida, numa situação de desemprego involuntário, ao fim de um ano estará ainda a receber subsídio de desemprego, o que poderá permitir pagar as despesas principais. Mas poderá não chegar, uma vez que este apoio é equivalente a 65% do salário. Caso esta situação comprometa o seu orçamento familiar poderá recorrer a algumas técnicas, como renegociar o crédito da casa, ou juntar todos os seguros. Se ainda não for suficiente, isto significa que corre o risco de ficar sem dinheiro.
Quanto mais robusto for o seu fundo de emergência maior será a sua segurança.
Porque mais do que uma resposta aos imprevistos, a poupança é o caminho para a independência financeira.