Num mundo de influencers, os pais continuam a ser os principais exemplos dos filhos na sua aprendizagem sobre o dinheiro. E neste campo, a psicologia e as ciências comportamentais ajudam a perceber como alguns comportamentos inconscientes dos progenitores impedem as crianças de se tornarem adultos financeiramente responsáveis. Saiba quais.
Somos cada vez mais impactados com conteúdos sobre investimento - são os reels, os lives do Instagram, os tiktoks e até a publicidade. No entanto, e apesar de as crianças aprenderem conceitos básicos na escola, com os amigos, ou nas redes sociais, é no seio familiar que a sua “personalidade financeira” é moldada. Este ponto é sublinhado pelo estudo “Financial Literacy: From Parent to Child”, que nos diz que “a família é o fator mais importante e com maior influência para o sucesso da socialização financeira das crianças”.
Por outro lado, se somos uma fonte de inspiração para uma relação saudável com o dinheiro, também os podemos influenciar negativamente. Como? É isso que vamos descobrir.
É importante moldar e educar as crianças desde cedo e prepará-las para o futuro nas diversas dimensões do dia a dia - incluindo a forma como gerem o dinheiro. Neste percurso de aquisição de competências financeiras e de desenvolvimento de comportamentos responsáveis, os pais têm um papel crucial.
Por onde pode começar?
Através da comunicação do dia a dia, as crianças vão percebendo que o “dinheiro não nasce nas árvores”, aprendem a distinguir as necessidades dos desejos, a definir prioridades e a tomar decisões financeiras.
As crianças tendem a reproduzir os comportamentos dos adultos. Ou seja: as escolhas de consumo que faz diariamente, a forma como gere as despesas da casa, como lida com o dinheiro, como utiliza os meios de pagamento ou como poupa vai influenciar (positivamente ou negativamente) o comportamento dos seus filhos.
Além das palavras e das ações, os valores incutidos pelos pais também exercem uma grande influência nos comportamentos financeiros das crianças.
Por exemplo: a noção de autocontrolo é importante para ajudar a tomar decisões mais ponderadas e evitar compras por impulso ou motivadas por uma emoção.
O saber esperar pela sua vez numa fila de supermercado pode ajudar uma criança a desenvolver a sua resiliência, bem como a capacidade para atingir determinado objetivo.
A forma como as nossas crianças veem o dinheiro diz, no fundo, muito sobre nós. Para evitar que os seus filhos desenvolvam uma relação irresponsável com as finanças, deve ter atenção aos seus próprios comportamentos. Eis alguns dos comportamentos mais comuns que os pais cometem na educação financeira dos seus filhos:
Não falar sobre dinheiro ou sobre questões financeiras à frente dos filhos por considerar que este é um assunto demasiado sério para as suas idades. Esconder das crianças os problemas financeiros que uma família atravessa (muitas vezes com o intuito de os proteger) também não é uma boa estratégia.
Mas se a falta de diálogo não ajuda a promover um bom ambiente de aprendizagem financeira, as discussões sobre este tema também podem exercer um impacto negativo no futuro das crianças. Por exemplo, os investigadores do estudo “Financial literacy: from parent to child” salientam que “as crianças que se recordam de discussões frequentes entre os seus pais por questões relacionadas com dinheiro têm uma maior probabilidade de acumular, mais tarde, dívidas no cartão de crédito”.
As questões financeiras da família devem ser discutidas de forma aberta e transparente, num ambiente em que os filhos se sintam envolvidos e estimulados a partilhar dúvidas e opiniões sobre a gestão do orçamento familiar.
Esta comunicação honesta e sem tabus promove a adoção de hábitos de consumo e de poupança mais saudáveis. Não se esqueça que, quanto mais confortáveis as crianças se sentirem para discutir estes temas, maior a probabilidade de mais tarde procurarem aconselhamento e estarem mais capacitadas para evitar possíveis armadilhas financeiras.
Se no seio familiar existir uma cultura de endividamento ou de consumo excessivo, os filhos tendem a reproduzir os mesmos padrões. Isto acontece porque as crianças aprendem por observação e imitação dos comportamentos.
Desse modo, “os pais que transmitem um bom exemplo no que diz respeito à gestão financeira familiar e promovem conversas regulares sobre tópicos financeiros tendem a ter crianças com um melhor comportamento financeiro no futuro”, explica o estudo “Does parent behaviour influence children financial behaviour?”.
Outro erro comum é o desalinhamento entre a comunicação e os comportamentos da família. Por exemplo, de nada vale explicar a uma criança que não pode comprar um determinado brinquedo porque a família tem de poupar dinheiro, se depois os hábitos de consumo do agregado familiar refletem uma realidade contrária.
Seja um bom exemplo e demonstre ter responsabilidade financeira: pague as suas contas a tempo e horas, tenha padrões de consumo e de endividamento saudáveis, crie e incentive a poupança.
Certifique-se de que as suas ações e decisões do dia a dia estão alinhadas com as mensagens vinculadas aos seus filhos.
Como em todos os processos de aprendizagem, é através da aplicação prática dos conceitos teóricos que o conhecimento vai sendo consolidado. O mesmo princípio se aplica à educação financeira dos filhos.
Nesse sentido, é importante fornecer não só bons conselhos e exemplos, mas também dar as ferramentas necessárias para que possam aprender a tomar as suas próprias decisões financeiras.
Por exemplo, muitos pais adiam a decisão de atribuir uma semanada ou mesada aos seus filhos, com receio de que eles façam más escolhas e não saibam gerir o dinheiro recebido. Quando, na verdade, os erros cometidos pelas crianças fazem parte do processo de aprendizagem.
Incentive os seus filhos a criarem uma pequena poupança para comprarem algo que desejem, mas, também, a serem responsáveis pela gestão da mesada, por ponderar as suas decisões de consumo ou até encontrar soluções alternativas para ganhar mais dinheiro.
Esta abordagem vai ajudá-los a compreender melhor as consequências das suas escolhas e a terem uma postura mais responsável na gestão do dinheiro quando se tornarem adultos.
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