
economia e mercados
360 Economia e Mercados
Semanal
Publicação semanal com uma análise dos principais desenvolvimentos da conjuntura económica global, procurando explicar e antecipar os seus impactos nos mercados financeiros. Esta publicação apresenta também, de uma forma sistematizada, as expectativas e previsões do Research do novobanco para a economia global e para a economia portuguesa.
Fevereiro 2025
- A expectativa de imprevisibilidade e volatilidade associadas à Presidência de Trump ficou bem evidente na última semana, com: o anúncio de tarifas sobre o México e Canadá, logo suspensas após concessões menores destes países; com uma tarifa adicional de 10% sobre as importações da China; com a introdução de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio; e com a afirmação de que estão a caminho novas “tarifas recíprocas” sobre os parceiros comerciais dos EUA (com a UE provavelmente em primeiro plano). Em sentido inverso, Trump reintroduziu a isenção de tarifas sobre importações de baixo valor, sobretudo oriundas da China. As acções registavam ganhos esta 2ª feira. É possível que o mercado esteja a desenvolver alguma insensibilidade ao tema das tarifas, vendo-as mais como uma arma negocial de Trump para alcançar objectivos económicos e políticos. Contudo, mantemos a expectativa de níveis de incerteza e volatilidade elevados, decorrentes de anúncios de novas medidas proteccionistas dos EUA e de potenciais retaliações.
O Secretário do Tesouro dos EUA afirmou que a Administração Trump não pretende condicionar o Fed e a sua taxa directora. Vê sim, como prioridade, manter a yield do Treasury a 10 anos em níveis baixos e vê como vitais a descida dos custos da energia e ganhos de eficiência na despesa Federal.
Em Portugal, em 2024, as exportações e as importações de bens cresceram 2.5% e 1.9% em termos nominais, levando o défice da balança comercial de bens a subir EUR 78 mn, para EUR 27.9 mil milhões.
- A Administração Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre as importações do México e Canadá (10% no caso de bens energéticos do Canadá) e de 10% sobre as importações da China. O anúncio foi justificado pela inacção destes países no controlo dos fluxos migratórios e do tráfico de fentanil para os EUA, bem como pela persistência de défices comerciais elevados com estas economias. Admite-se que as tarifas possam funcionar como uma arma negocial (temporária) dos EUA. Mas, de uma forma mais geral, elas enquadram-se na postura populista e nacionalista adoptada pela Administração Trump, e num propósito a reindustrialização da economia americana.
- O anúncio afectará 43% das importações dos EUA, ou 5% do PIB, e elevará a tarifa média praticada pela economia americana para um máximo desde 1946. Em retaliação, o Governo do Canadá anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre USD 106 bn de importações oriundas dos EUA. Esperam-se também contramedidas por parte do México e China. Se prolongado no tempo, este primeiro embate de uma guerra comercial poderá gerar impactos económicos adversos significativos, mais severos no México (que dirige 80% das suas exportações para o mercado americano) e no Canadá (77% das exportações para os EUA), via relocalização de produção, queda do investimento e do emprego e disrupção de cadeias de produção. Os sectores automóvel, agrícola e energético serão, à partida, os mais afectados.
- Em Portugal, o PIB cresceu 1.5% QoQ e 2.7% YoY no 4Q’24, acima do esperado e em aceleração face ao 3Q. Em 2024, a economia cresceu 1.9%, sobretudo com o contributo do consumo privado (que puxou pelas importações). O investimento abrandou. Em Dez’24, a taxa mensal de desemprego recuou de 6.6% para 6.4% da população activa. Em Jan’25, a inflação recuou de 3% para 2.5% YoY e o indicador de sentimento melhorou marginalmente, suportado pela confiança dos consumidores.
Janeiro 2025
- Os primeiros dias da presidência de Trump suportaram a expectativa de imprevisibilidade, incerteza e volatilidade. A reacção inicial do mercado foi favorável, com a ideia de que cortes de impostos, menor regulação e aumento da produção de petróleo possam estimular o crescimento. E com a leitura de maior moderação de Trump nas tarifas. Mas as propostas da Trumpnomics envolvem contradições e riscos, incluindo potenciais pressões inflacionistas, subidas dos juros e do dólar, desequilíbrios orçamentais, instabilidade com uma excessiva desregulamentação e eventual perda de independência do Fed.
- Com os PMIs de Jan e o PIB do 4Q’24 a sinalizarem um crescimento sólido e com os riscos inflacionistas da política de Trump, o Fed deve manter a taxa directora inalterada em 4.25%-4.5%. Na 5ª feira, o BCE deverá anunciar uma nova descida de 25 bps das taxas de juro de referência (com a taxa da facilidade de depósito a ser reduzida para 2.75%) e manter um easing bias, dados os riscos negativos para o crescimento.
Entre os potenciais impactos da Trumpnomics 2.0 em Portugal, incluem-se: (i) o contributo de um dólar mais forte para o reforço da tendência recente de aumento do número de turistas americanos em Portugal, (ii) um aumento dos expatriados americanos descontentes com Trump, com impacto na procura de habitação; (iii) juros altos por mais tempo nos EUA, condicionando a actuação do BCE na redução das taxas directoras na Zona Euro, e restringir assim a actividade; (iv) num cenário de tarifas americanas de 10% sobre a UE e de 60% sobre a China, quedas do PIB, até 2027, de 2.5% na UE e 2% em Portugal, vs. cenário base; (v) o aumento da despesa em Defesa para 4%-5% do PIB (vs. 1.4% actuais), penalizando as contas públicas.
- Esta semana marca a tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos EUA, acompanhada pelo controlo Republicano das duas câmaras do Congresso. Espera-se uma entrada da nova Administração a todo o gás, marcada por diversas ordens executivas e por uma actuação legislativa agressiva. Os principais objectivos incluem: (i) a renovação e provável aprofundamento dos cortes de impostos sobre o rendimento em vigor desde 2017, que expiram no final de 2025; (ii) a redução dos impostos sobre as empresas; (iii) cortes na despesa Federal (ex-Defesa); (iv) forte redução da carga regulatória (energia, sector financeiro, criptoactivos); (v) aumento de tarifas e (vi) fortes restrições à imigração.
- As medidas que poderão/deverão ser anunciadas imediatamente após a tomada de posse são as que dependem de ordens executivas do Presidente. Legislação com vista à redução de impostos deverá marcar a agenda do Congresso nos próximos meses. Uma preocupação nos mercados é o risco de que estas medidas possam estimular a procura, a inflação, os juros e o dólar, numa altura em que a economia se encontra já em pleno emprego, com uma inflação persistente e com as yields dos Treasuries a 10Y não muito longe dos 5%, tendo subido recentemente, apesar dos cortes de juros pelo Fed.
A DBRS melhorou o rating de Portugal de A para A (high), alterando o outlook de “positivo” para “estável”. A agência citou o “forte desempenho orçamental”, a “redução das vulnerabilidades externas” e a “maior resiliência do sector financeiro”.
- A economia dos EUA criou, em Dezembro, 256 mil empregos, acima do esperado e acima da média mensal de 2024, de 186 mil. A taxa de desemprego recuou de 4.2% para 4.1% da população activa. Estes registos sugerem uma economia ainda relativamente “aquecida” e uma pausa do Fed na descida dos juros de referência, já em Janeiro. O mercado reviu em baixa a expectativa de número de cortes pelo Fed em 2024 (para 1 movimento de 25 bps a partir do Set/Out, e com alguns investidores a considerarem já a possibilidade de nenhum corte, ou até de subidas). Este quadro traduziu-se numa penalização do mercado accionista (“boas notícias são más notícias”) e alimentou receios mais gerais de impactos negativos no crescimento global.
Mantemos o nosso outlook para 2025, no qual definimos, como temas centrais (i) a expectativa de desaceleração da actividade global; (ii) a ausência de recessões nas principais economias; (iii) a intenção de os bancos centrais levarem as taxas de juro para os seus níveis neutrais; (iv) as divergências entre o crescimento, as pressões inflacionistas e as políticas monetárias das diferentes economias (e.g. EUA vs. China vs. Europa); e (v) os riscos de fragmentação da economia mundial, associados, por exemplo, a possíveis “guerras comerciais”.
Em Portugal, o indicador de sentimento económico apurado pela CE manteve-se estabilizado em Dez, com uma ligeira deterioração da confiança dos consumidores a ser compensada por uma melhoria do sentimento dos empresas nos serviços e construção.
- O ano de 2025 deverá ser marcado por uma desaceleração relativamente moderada da actividade económica global. Esta evolução deverá reflectir os efeitos desfasados das subidas das taxas de juro levadas a cabo entre 2022 e 2023, um menor suporte da política orçamental e algum arrefecimento do mercado de trabalho. Um segundo tema a marcar a conjuntura em 2025 deverá ser a continuação de uma tendência de desinflação, mas menos linear do que o até aqui assumido. Nos EUA, poderá haver maior persistência dos preços, dado o desempenho ainda robusto da procura e as expectativas em torno das propostas de Trump, potencialmente inflacionistas.
- Esperamos, num cenário central, que o Fed reduza a sua taxa directora de 4.25%-4.5% para um “valor terminal” em torno dos 3.5%-4% (i.e. 2 a 3 cortes de 25 bps). Na Zona Euro, esperamos 5 cortes de 25 bps pelo BCE, levando a taxa da facilidade de depósito para um valor em torno de 1.75%.
Num cenário base, a economia portuguesa deverá crescer em torno de 2% em 2025, acima da Zona Euro e em ligeira aceleração face a 2024. O consumo privado deverá beneficiar de uma evolução relativamente robusta do mercado de trabalho (taxa de desemprego em torno de 6.4% da população activa) e do aumento do rendimento disponível real das famílias (descidas de impostos, revisões salariais, etc.). O desempenho relativamente favorável da economia portuguesa será suportado pela expectativa de excedentes nas contas públicas e externas, que beneficiam a percepção da economia no exterior e possibilitam condições de financiamento favoráveis.